16 de março de 2008

Pense Nisso

O OVO DE JEREMIAS
Ida Mae Kempel

Jeremias nasceu com um corpo torto e uma mente retardada. Aos doze anos de idade ele ainda estava no segundo ano e parecia incapaz de aprender. Sua professora, Doris Miller, sempre perdia a paciência com ele. Ele ficava se contorcendo em sua carteira e fazendo ruídos guturais. Em outras ocasiões ele falava de modo claro e preciso, como se um raio de luz penetrasse nas trevas do seu cérebro. Todavia, na maior parte do tempo, Jeremias irritava sua professora. Certo dia ela chamou os pais e pediu que fossem à escola Santa Teresa para uma conversa. Quando o casal Forrester se sentou na sala de aulas vazia, Doris disse a eles: - Jeremias deveria estar em uma escola especial. Não está certo que ele fique com crianças mais novas que não têm problemas de aprendizado. Ora, existe uma margem de cinco anos entre sua idade e a dos outros alunos!

A Sra. Forrester chorou baixinho, escondendo a boca em um lenço. Seu marido falou: - Sra Miller - disse ele - não existe nenhuma escola desse tipo nas redondezas. Seria um choque terrível para Jeremias se tivéssemos que tirá-lo desta escola. Sabemos que ele gosta mesmo é daqui.

Doris ficou ali sentada durante um bom tempo depois que eles saíram, olhando para a neve que caía do lado de fora da janela. Aquela frieza parecia encher sua própria alma. Ela queria sentir compaixão pelos Forresters. Afinal, o único filho deles tinha uma doença terminal. Mas não estava certo mantê-lo em sua classe. Ela tinha 18 outros alunos mais novos para ensinar, e Jeremias era uma distração para eles. Além do mais, ele nunca iria conseguir aprender a ler ou escrever. Por que desperdiçar mais tempo tentando?

Enquanto ela pensava nisso, um sentimento de culpa caiu sobre ela. "Oh Deus," falou em voz alta, "aqui estou eu reclamando quando meus problemas não são nada comparados com aquela pobre família! Por favor, me ajude a ser mais paciente com Jeremias!"
Daquele dia em diante, ela tentou ignorar os ruídos que Jeremias fazia e também seus períodos de incapacidade de se comunicar com o ambiente que o cercava. Então um dia ele chegou até sua mesa, arrastando atrás de si sua perna dormente.

- Eu amo você, Srta. Miller - exclamou ele em voz alta o suficiente para que toda a classe ouvisse. Os outros alunos deram risinhos e o rosto de Doris ficou vermelho.
Ela gaguejou ao responder: - Mu.. muito obrigada, Jeremias. Agora volte para o seu lugar.

Chegou a primavera e as crianças começaram a falar entusiasmadas sobre a Páscoa que chegava. Doris contou para eles a história de Jesus, e então para dar mais ênfase à idéia da nova vida brotando, deu a cada uma das crianças um ovo de plástico que podia ser aberto.

- Vejam - disse ela - quero que vocês levem isto para casa e o tragam amanhã com alguma coisa dentro que mostre uma nova vida. Entenderam? - Sim, Srta. Miller! - as crianças responderam com entusiasmo. Todos, menos Jeremias. Ele apenas ouviu atento com seus olhos fixos na face da professora. Ele não fez seus ruídos de sempre naquele momento.

Teria ele entendido o que ela ensinou sobre a morte de Jesus e Sua ressurreição? Será que ele entendeu a tarefa que devia fazer? Era melhor ela ligar para seus pais e explicar a eles o que era para ele fazer com o ovo.

Naquela noite, a pia da cozinha de Doris parou de funcionar. Ela chamou o senhorio e esperou uma hora até que ele viesse consertar. Depois disso, ela ainda teve que fazer compras, passar uma blusa e preparar uma prova de vocabulário. Acabou se esquecendo completamente de ligar para os pais de Jeremias.

Na manhã seguinte, 19 crianças chegaram na escola, rindo e conversando enquanto colocavam os ovos sobre uma grande cesta sobre a mesa da Srta. Miller. Depois da aula de matemática, era hora de abrir os ovos. No primeiro ovo, Doris encontrou uma flor. - Sim, uma flor é certamente um sinal de uma nova vida - disse ela. - Quando as plantas começam a brotar, sabemos que chegou a primavera.

Uma menininha na primeira fileira levantou a mão. - Esse é o meu ovo, Srta. Miller. O próximo ovo continha uma borboleta de plástico, que parecia de verdade. Doris levantou ela para todos verem. - Sabemos que uma lagarta se transforma em uma linda borboleta. Sim, isto é nova vida também.

A pequena Juddy sorriu orgulhosa e disse: - Srta. Miller, esse é o meu ovo! Em seguida, Doris abriu um que tinha uma pedrinha coberta de musgo. Ela explicou que o musgo também significava vida. Billy falou lá do fundo da classe: - Meu pai me ajudou!

Então Doris abriu o quarto ovo. Ela ficou muda. O ovo estava vazio! Na certa era o ovo de Jeremias e ele não entendeu a tarefa que lhe fora dada. O pior é que ela tinha esquecido de telefonar para os pais dele!
Para não embaraçá-lo, ela colocou o ovo de lado e foi pegar o seguinte. Mas o atento Jeremias falou: - Srta. Miller, não vai falar nada do meu ovo? Embaraçada, Doris respondeu: - Mas Jeremias, seu ovo está vazio! Ele olhou bem nos olhos dela e disse com voz suave: - Sim, mas o túmulo de Jesus estava vazio também! Jesus foi morto e colocado ali. Então Seu Pai o ressuscitou!

O sino do recreio tocou. Enquanto as crianças corriam para fora, Doris chorava. A frieza dentro dela acabava de derreter completamente.

Três meses depois, Jeremias morreu. Aqueles que compareceram ao funeral não conseguiam entender a razão dos 19 ovos de plástico vazios que havia sobre seu pequeno caixão. Pense nisso...

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